Um dia meu avô me explicou
algo chamado diferença, eu tinha sete anos de idade, naquele tempo não entendia
ao certo o que ele queria me passar. Eu apenas pensava em borboletas e tigres,
na minha cabeça eles eram a mesma coisa. Mas porque não poderia ser? São animais,
não são? Pois não era o que meu avô achava.
Todos os dias saio de casa
a espera do meu querido ônibus, aquele que ao mesmo tempo me leva para o
estressante trabalho, mas que de tarde volta me trazendo a paz da minha casa. Raramente,
quando não estou dormindo, reparo no que se passa através da janela, sempre me
deparo com crianças brincando no caminho da escola. Acho incrível o modo como
elas podem ver o mundo, parece ser tão simples e fácil, tão bonito e calmo. Elas
mal reparam na roupa que vestem. Elas me lembram dos meus sete anos, a borboleta
e o tigre, mal sabia eu que essa era a maior desavença do mundo. Talvez se conseguisse
voltar aos meus sete anos, poderia explicar para eles a igualdade entre os dois
pobres bichinhos.
Eu não sei se sou a única,
mas toda vez que olho por trás da janela do ônibus, enxergo a diferença. Vejo aqueles
prédios grandes e luxuosos, onde as mulheres reúnem-se à tarde para tomar o
glorioso chá e conversar sobre assuntos sem importância. Porém, em alguns
casos, tenho que me sentar do outro lado do ônibus, obrigando-me a ver a
pobreza, a desavença e a fome. Nessas horas o meu pensamento volta na borboleta
e no tigre, aqueles que são iguais e diferentes ao mesmo tempo, aqueles que
vivem em constante guerra. O tigre forte pisando na pobre borboletinha. É nessas horas que percebo que não passamos
de animais com a capacidade de pensar desligada. Aposto que meu avô não concordaria
com essa minha nova teoria.