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sábado, 6 de julho de 2013

Do outro lado do vidro


Um dia meu avô me explicou algo chamado diferença, eu tinha sete anos de idade, naquele tempo não entendia ao certo o que ele queria me passar. Eu apenas pensava em borboletas e tigres, na minha cabeça eles eram a mesma coisa. Mas porque não poderia ser? São animais, não são? Pois não era o que meu avô achava.
Todos os dias saio de casa a espera do meu querido ônibus, aquele que ao mesmo tempo me leva para o estressante trabalho, mas que de tarde volta me trazendo a paz da minha casa. Raramente, quando não estou dormindo, reparo no que se passa através da janela, sempre me deparo com crianças brincando no caminho da escola. Acho incrível o modo como elas podem ver o mundo, parece ser tão simples e fácil, tão bonito e calmo. Elas mal reparam na roupa que vestem. Elas me lembram dos meus sete anos, a borboleta e o tigre, mal sabia eu que essa era a maior desavença do mundo. Talvez se conseguisse voltar aos meus sete anos, poderia explicar para eles a igualdade entre os dois pobres bichinhos.

Eu não sei se sou a única, mas toda vez que olho por trás da janela do ônibus, enxergo a diferença. Vejo aqueles prédios grandes e luxuosos, onde as mulheres reúnem-se à tarde para tomar o glorioso chá e conversar sobre assuntos sem importância. Porém, em alguns casos, tenho que me sentar do outro lado do ônibus, obrigando-me a ver a pobreza, a desavença e a fome. Nessas horas o meu pensamento volta na borboleta e no tigre, aqueles que são iguais e diferentes ao mesmo tempo, aqueles que vivem em constante guerra. O tigre forte pisando na pobre borboletinha.  É nessas horas que percebo que não passamos de animais com a capacidade de pensar desligada. Aposto que meu avô não concordaria com essa minha nova teoria.